No entanto, eu sempre me senti atraído pelas lendas de poder infinito prometido àqueles que dominam um desses editores lendários. Um pouco frustrado pela falta de flexibilidade da minha opção atual, resolvi voltar a investir no aprendizado de uma dessas ferramentas. Baixei e instalei os dois, mas apesar da minha maior simpatia com o Vim, resolvi que deveria experimentar o GNU Emacs dessa vez.
Bom, os comentários sarcásticos sobre o Emacs dizendo que ele é “um grande sistema operacional, faltando apenas um editor decente” estão perto de ser verdade: o Emacs é um sistema bem complexo. Ele vem com diversos modos de edição diferente que são divididos em dois tipos: major-modes e minor-modes. Os major-modes governam o comportamento geral do editor para um determinado buffer (o que você chamaria de "arquivo" em um editor comum, mas que não necessariamente está associado a um arquivo no disco), enquanto os minor-modes adicionam comandos e comportamentos que podem complementar um major-mode. Para um determinado buffer apenas um major-mode pode estar ativo, mas minor-modes podem ser vários. Um exemplo: o major-mode Text serve para editar arquivos de texto normais e o minor-mode Autofill pode ser usado para que as linhas sejam quebradas automaticamente para formar parágrafos uniformes. Existem também major-modes para linguagens de programação e marcação como o c-mode, o python-mode e o html-mode. Além de comandos adicionais, aparecem menus para executar alguns dos comandos mais comuns.
Bom, até agora parece que tudo isso é só uma nomenclatura rebuscada pra coisas comuns que todos os editores tem, mas a diferença é o grau de customização que é possível no emacs. Cada um desses modos são implementados como programas em um dialeto específico de Lisp chamado Emacs Lisp ou ELisp. O que acontece é que cada tecla (ou combinação de teclas) pressionada pode estar associada com uma função ELisp, inclusive as teclas alfanuméricas, o que quer dizer que quando você digita a letra A no seu teclado, existe uma função Lisp que insere o caractere A na posição atual do cursor. Porém, não precisa ser assim! Nada impede você de associar qualquer tecla ou combinação com qualquer outro comando fazendo seu próprio programa Lisp. E é graças a essa flexibilidade que o Emacs vem com uma míriade de modos que não tem nada a ver com editar texto, por exemplo, um psicoterapeuta virtual, um jogo de tetris, um navegador de arquivos, leitor de notícias online e MUITOS outros, tanto já incluídos no GNU Emacs como disponíveis na internet. Fora minor-modes adicionais que acrescentam ferramentas muito legais como essa aqui:
Vale também mencionar que um dos major-modes chamado org-mode tem uma palestra de mais de 40 minutos do Google Tech Talks para explicar o seu funcionamento.
Apesar de todas essas maravilhas, existem razões pelas quais é difícil começar a usar o Emacs.
- A pletora de funcionalidade pode ser um tanto desgastante. São tantos comandos e opções que é enlouquecedor no início.
- Os atalhos de teclado costumam envolver malabarismos não tão comuns em outros editores. Existem atalhos como Ctrl+x, b significando que você precisa primeiro apertar Ctrl+x e depois apertar b, até porque Ctrl+x, Ctrl+b é outro atalho que ativa outro comando.
- O programa foi criado bem antes de algumas convenções que muitos de nós estamos acostumados (Ctrl+C, Ctrl+V, Ctrl+Z, alguém?). Para se ter uma idéia, o comando padrão de desfazer é Ctrl+_ e como o caractere é um underscore, isso significa que você precisa apertar Shift junto em um teclado QWERTY convencional. Felizmente isso tem uma solução simples: existe o modo CUA que é fácil de ativar e que faz com que muitas coisas passem a funcionar do jeito que é convencional nos editores atuais.
- O programa é um tanto feio para padrões estéticos atuais e tem cara de antigo.
- Customizar o comportamento do programa significa editar um arquivo Lisp ou usar uma interface um tanto poluída chamada Custom (que, adivinhem, é implementada em Lisp dentro do próprio Emacs)
Meu principal objetivo é usá-lo como a IDE perfeita para Python e ele tem umas features bastante impressionantes para isso:
O Rope é usado para uma parte da funcionalidade mostrada nesse vídeo. É uma biblioteca com recursos de refatoração e funções de introspecção úteis para IDE's. No Emacs ele é usado através do Ropemacs.
Uma dica para quem estiver iniciando: aprenda os comandos por nome. Todo comando tem um nome que está relacionado com a função que ele desempenha. Aperte Esc e depois x (ou segure a tecla Meta - Alt normalmente - e pressione x) que você irá para o minibuffer e poderá executar um comando digitando seu nome. Além disso, você não precisa saber todo o nome do comando, basta apertar tab para mostrar uma lista de opções de autocompletar. Se o comando que você executar tiver um atalho de teclado, uma mensagem aparecerá no minibuffer dizendo qual é o atalho, logo após a execução. Assim você pode ir memorizando os atalhos dos comandos que você usa com mais frequência, enquanto os comandos novos que você aprender dá pra memorizar pelo nome que é muito mais fácil.